terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CARREGADO - Uma Terra, uma História! (1)

Nasceu a 6 de Novembro de 1939 na freguesia de S. Sebastião da Pedreira - Lisboa - é filho de Fernando Silva e de Maria Rosa da Costa e Silva.
Veio para o Carregado com 18 meses de idade onde se mantém.

Aos 60 anos decidiu passar ao papel algumas das suas lembranças do Carregado mais antigo,  tendo recorrido a pessoas mais idosas que lhe forneceram dados e fotografias de tempos muito anteriores ao seu nascimento.
Foi seu intento manter viva a memória de um Carregado então fraternal, onde o amigo era amigo do seu amigo, tentando assim transmitir aos vindouros a lembrança do que já não irão encontrar hoje, a amizade verdadeira entre toda a população.  
                       
Alguns dados biográficos:

-         Praticante da modalidade de Remo “ Shell 4 “  (V. F. Xira)
-         Praticante de Atletismo nas modalidades de 100 e 200 metros (S.L. Benfica), na época de 1960.
-         Presidente da A. Desportiva do Carregado, em 1970/71, 74/75 e 75/76.
-         Membro da Comissão de trabalhadores da General Motors de Portugal.
-         Delegado Sindical do Sindicato do Metalúrgicos.
-         Membro da Comissão Intersindical da General Motors de Portugal.
-         Membro Fundador do SENACHE (Secretariado Nacional das Cooperativas de Habitação Económica).
-         Membro Fundador da FENACHE (Federação Nacional das Cooperativas de Habitação Económica).
-         Membro Fundador da ULISNORTE (União das Cooperativas de Habitação da Zona Lisboa Norte).
-         Presidente da Cooperativa de Habitação Económica Abricasa, C.R.L.
-         Candidato à Presidência da Câmara Municipal de Alenquer, em 1982.
-         Vereador na Câmara Municipal de Alenquer, em 1979/82 e 1982/86.
-         Membro da Comissão Instaladora da Freguesia do Carregado, em 1985.
-         Eleito na Assembleia de Freguesia do Carregado, desde 1986.
-         Presidente da Assembleia de Freguesia do Carregado de 1987/89.
-         Membro da C.U.P.C.A.B. ( Comissão de Utentes do Parque de Campismo da Praia da Areia Branca ), de 1995 a 1997.
Este trabalho foi baseado na pesquisa feita pelo autor junto de vários habitantes, mais antigos, do Carregado tendo sido recolhidas algumas fotografias da época que, embora dispersas, se encontram na posse dos seus proprietários, outras foram feitas pelo autor.

As referências que aludem às Quintas e seus antigos proprietários foram transcritas da Obra “Alenquer e seu Concelho“ de Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) enquanto que a  “Relação de Documentos“ foi transcrita do livro “Contribuição para um Arquivo Histórico de Alenquer“ da autoria do ex–Director do Museu Municipal Hipólito Cabaço, João José Fernandes Gomes.

O Carregado, hoje Vila, é a freguesia com maior população, no concelho de Alenquer. O seu número de habitantes ronda os 11.000. Com esta dimensão, a freguesia encontra-se  carênciada de um conjunto de infra-estruturas que se tornam cada vez mais prementes já que as necessidades do tipo urbano a obrigam a ser mais exigente.
Nó central de eixos viários, desde os primórdios, (1ª linha dos caminhos de ferro, Lisboa - Carregado); cruzamento da Estrada Real Lisboa - Caldas da Rainha e Lisboa - Santarém, bem como pólo fluvial importante através do rio Tejo, desde Lisboa às Portas de Ródão, o Carregado continua hoje a sua tradição de nó central das linhas viárias que cruzam o País.

Marco da Malaposta
De povoação rural onde abundavam as Quintas (Condessa, Telhada, Queimada, S.Julião, Alegria, Stº.António “Vaz Monteiro”,    Barrão,    Passagem, Campo (Marquês), Vale Flores, Casal Novo, Meirinha, Mendanha, Casal Velho, Barrada, Colónia, Roseiral, Outeiro, Chacão, Seixas, Alconchel, Boa-Água, Peixoto, etc.) o Carregado é hoje zona comercial e industrial, mercê da sua privilegiada localização. As vinhas, os campos de trigo e os olivais,  cederam  o  seu  lugar   ao cimento. As indústrias implantaram-se na área, as populações foram obrigadas a alterar o seu modo de vida, o Carregado iniciou o seu crescimento, mas não o seu desenvolvimento ordenado. Reconheço no entanto, serem as indústrias, o pólo mais importante do Carregado.

Quinta do Campo
Os edifícios cresceram em altura mas as infra-estruturas não acompanharam esse crescimento.
O escoamento do tráfego que hoje atravessa o Carregado é deficitário. Dadas as novas exigências e consequências do crescimento: projectaram-se auto-estradas, variantes, IC´s, sem se estudar o impacto ambiental, quase já não existem  zonas de reserva agrícola. Não se protegeu as zonas de reserva ecológica, enfim, não se acautelou o futuro promissor da Vila do Carregado.

Rede de Auto-Estradas
A reconstrução de prédios antigos junto das principais vias de comunicação não teve em conta o  seu futuro alargamento.
O Carregado necessita de espaços verdes para o crescente aumento populacional, necessita também de uma  sala de espectáculos onde se possam realizar actividades culturais, porque as novas urbanizações não contemplam espaços para equipamentos sociais.
As escolas excedem as suas capacidades.
 Não existe um posto de forças de segurança permanente (numa zona de constantes assaltos a bens e pessoas), não existe sequer uma secção de bombeiros (numa área que tem cerca de 1/3 da população total do concelho).

A história do Carregado ainda está por fazer. Pouco se sabe do seu nascimento, mas certamente outros mais conhecedores, alertados por este subsídio para a sua história, serão levados a estudar  mais aprofundadamente  as suas origens.
(1) "Em 22 de Dezembro de 1837 foi mudada  o Valle do Carregado para o Concelho de Alemquer e freguezia de Cadafaes. D´antes tinha pertencido  a Villa Franca de Xira" (pag.18). Presentemente aquele lugar pertence de novo ao seu concelho de origem.
A freguesia de S.Iago, hoje reunida à de Stº Estevão, tinha em 1758 apenas  40 fogos e 160 almas  e compreendia os lugares de Pancas, Parrotes e Carregado (Pag.195).
" A parochia de Stº Estevão é a reunião das freguezias de S.Pedro e S.Iago: os logares que abrange são Pedra d’ Oiro, Paredes, Trombeta e parte dos logares de Pancas e Carregado (Pag.215).
A ocupação humana na freguesia remonta à pré-história, nomeadamente nas épocas do Paleolítico e Neolítico;"  nas camadas do caminho do Carregado para Cadafaes, encontram-se sílex lascados, maxilares de pequenos animaes, dentes molares de homens e fragmentos de loiça grosseira, vermelha e anegrados.
Nas camadas dos Casaes do Carregado encontram-se em areeiros, alguns calhaus de sílex de peso de 2 a 8 Kilos e raras lascas e peças pequenas da mesma substância. Nos calhaus percebe-se que algumas lascas não deixam dúvidas sobre a mão do homem, o que nos garante a presença do “Genus Homo” nesta Terra ". ( pag.13)
Ponte da Couraça
Centro de comunicações por excelência o Carregado assumiu desde há séculos, um papel histórico-geográfico, como porto fluvial, estação ferroviária e centro viário de ligação com o Norte do País.
Desde a idade média, assume-se como ponto estratégico e passagem obrigatória que aqui faziam as galeras e os almocreves que, entre a Vala do Carregado e o Alto Concelho de Alenquer, escoavam toda a produção artesanal e agrícola da região.
(2) " Em 1 de Setembro de 1850 foi iniciada a construção da Estrada Real entre Lisboa e Caldas da Rainha passando por Carregado, Alenquer e Ota (Pag. 11). A primeira carreira regular da Mala-Posta em Portugal confere ao Carregado o lugar da mais importante estação de apoio aos serviços regulares desta carreira entre Lisboa e Caldas da Rainha, que funcionou até 1864. De notar que o marco existente no Carregado  tem inscrito numa das faces: ESTRADA QUE / VEM DAS CAL/DAS DA/RAINHA e noutra das faces : ESTRADA QUE / SE DERIGE / A SANTARÉM / ANNO DE 1788, o que nos leva a crer que esta estrada possivelmente construída em cima de antigos caminhos romanos já funcionava muito antes de 1850.
A 28 de Maio de 1855 inaugurou-se a carreira diária, da Mala-Posta entre o Carregado e Coimbra. Os passageiros e o correio saíam de Lisboa numa barca da Companhia de Barcos e Vapores do Tejo, seguiam até ao cais da Vala do Carregado, donde partia a deligência ao meio dia. À mesma hora da partida do Carregado, saía de Coimbra uma outra deligência que chegava á estação da Vala do Carregado cerca das 11 horas da noite. A partir de 1859, esta carreira alargou o seu trajecto e passou a ligar Lisboa ao Porto.
Nesta deligência de 6 lugares, puxada por 4 cavalos, o preço de uma passagem entre o Carregado e Ota, com direito a 33 arráteis de bagagem (cerca de 15 Kg) era de 720 réis em primeira classe e 480 em segunda. 
Em 28 de Outubro de 1856, inaugurou-se o caminho de ferro de Portugal, com a 1ª linha férrea de Lisboa ao Carregado. Desta inauguração transcrevemos uma passagem do livro de memórias da Marquesa de Rio Maior (que à data era ainda criança ):
Vou narrar o que me lembra do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. Minha mãe não quis ir ao banquete do Carregado. Mas foi comigo para um cerro fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio (….).
Finalmente, avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio ? Quando se aproximou, vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. O comboio parou por um momento na estação, de onde se ergueram girândolas estrondosas de foguetes (...).
 (...) Só no dia seguinte ouvimos o meu pai contar as várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (...) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram; e fora-as largando pelo caminho. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina sozinha ou parte dela. (...)
(...) Meu pai passou para a carruagem real, na qual chegou ao Carregado, onde assistiu aos festejos e comeu lautamente, porque o banquete era farto ".

Moinho de Água-Qª da Colónia
Como se diz no início deste escrito, não se conhecendo ao certo as origens do Carregado, julga-se pelo menos que ele é resultante das muitas Quintas que o constituíam. Que algumas dessas Quintas têm séculos de existência, isso sabemos, no entanto continua obscura a razão da sua origem como povoação.
Das Quintas que maior importância parecem ter tido para o seu crescimento salienta-se a Qtª. da Condessa, hoje da " família Pinto Barreiros "; Qtª. de Stº António da " família Vaz Monteiro "; Qtª. Casal Novo da " Família Laíns ". E porquê estas três ?. Em primeiro lugar porque as terras onde actualmente se situa o Carregado era pertença dessas famílias. Em segundo lugar porque estas famílias construíram as casas da povoação onde passaram a residir os seus trabalhadores. Por último, porque foram essas famílias que iniciaram o primeiro desenvolvimento deste lugar. Destacamos ainda as famílias Grilo e Cordeiro bem como a família Laíns que também contribuíram para o desenvolvimento do Carregado. E veja-se : Primeira casa de cultura do Carregado e que se chamava “Grémio” (família Vaz Monteiro), primeiro centro de escolha, embalagem e exportação de frutas, com destaque para a uva de mesa (famílias Laíns e Cordeiro), primeira iluminação eléctrica, na altura a gerador (famílias Laíns e Cordeiro). etc. Para além destas, muitos outros proprietários de tantas outras Quintas podem ter tido maior ou menor importância nesse desenvolvimento.
Nesse tempo, como área essencialmente agrícola,  certamente que se sentiu a influência dos proprietários desses terrenos. Era na “Praça dos Homens” que os trabalhadores rurais eram arrematados pela “jorna” diária que iriam receber em cada dia, trabalhando de sol a sol. A “praça” mais conhecida, situava-se junto à actual "Dália Azul", na empena do celeiro da família Vaz Monteiro, onde hoje se encontra uma instituição bancária.
Eram portanto aqueles proprietários que davam emprego aos trabalhadores do então Carregado.




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